sábado, 14 de janeiro de 2012

Capítulo 9


Eu estava dirigindo feito uma louca pela cidade, em direção à casa de Caíque. Meus pensamentos estavam a mil, e eu só era capaz de pensar no pior, que Lucas tivesse feito alguma coisa com ele, o tivesse machucado. Se alguma coisa acontecesse com o meu Caíque, eu jamais desculparia Lucas, e nem a mim mesma.
Após alguns minutos – menos do que o normal graças à minha velocidade – cheguei à casa de Caíque. Era uma casa muito bonita, com janelas grandes e amplas, fachada de tijolos brancos, e no canto da propriedade uma porta que dava para o jardim, o lugar onde ele passava a maior parte do tempo, brincando com sua irmãzinha.
Toquei a campainha e esperei até que alguém abrisse a porta. Lá estava ele. Excepcionalmente lindo. Seus cabelos castanhos bagunçados agora pingavam, indicando que ele havia acabado de tomar banho. Seus olhos verdes brilhavam, e como sempre eu me senti hipnotizada por eles. Me joguei em seus braços, e lhe dei um beijo demorado, como se fosse o último. Após alguns longos minutos, nos soltamos, mas continuamos fitando um ao outro deslumbrados.
- Caíque, pelo amor de Deus! Você tá bem?! Ai meu Deus aquela mensagem me deixou apavorada, você ta bem de verdade, meu amor? – finalmente eu quebrei o silêncio, despejando todas as palavras, em quanto tocava sua face à procura de algum sinal de violência.
 - Sabia que você fica linda preocupada? – ele disse, logo após beijando minha testa. – Eu estou bem pequena, de verdade. Nenhum arranhão. Aquele Lucas não é nada perto de mim! – ele riu mostrando seus músculos não muito definidos.
- Ah, assim eu fico muito mais aliviada – disse caçoando dele. – Mas... Amor, você vai me deixar aqui fora? Está frio, sabia?
- Ai pequena, me desculpa, entra, entra! – ele disse enquanto me puxava pra dentro de sua casa.
Não tive muito tempo para reparar no ambiente, pois logo que entrei, Caíque havia colocado suas mãos sobre meus olhos, fazendo com que eu não enxergasse nada.
- Eu tenho uma surpresa pra você. – sussurrou em meus ouvidos.
Ele me guiava pela cintura, o que tornava nossa caminhada um pouco complicada, mas muito agradável. Podia sentir quando esbarrávamos em alguns móveis, ou até quando algum objeto caía de sua superfície. Ouço quando ele abre a porta de vidro que sei que está à minha frente. Ele tira minhas vendas, e beija minha bochecha.
Estávamos em seu jardim, mas hoje ele com certeza estava especial. Caíque havia preparado um piquenique sob as estrelas para nós dois. Uma toalha vermelha estava por cima da grama, juntamente com nossos pratos, talheres e taças. Uma garrafa de vinho e duas caixas de pizza faziam parte do nosso cardápio.
- Surpresa! – ele disse, percebendo minha emoção. Ninguém jamais havia feito algo como aquilo pra mim.
- Você é perfeito, sabia?! – disse enquanto o abraçava.
Nos sentamos em cima da toalha e começamos a comer. Conversávamos sobre assuntos aleatórios enquanto bebericávamos ao vinho. Caíque havia ligado seu ipod, assim tínhamos música ambiente, embora nossas risadas se sobressaíssem.
Terminamos nossa refeição, mas continuamos no jardim. Estávamos em silêncio, eu deitada sobre seu peito, olhando as estrelas que hoje pareciam querer tornar a nossa noite ainda mais especial, pois brilhava como nunca, diante de nossos olhos. Estava a ponto de adormecer com as carícias de Caíque em meu cabelo, mas pude reconhecer a música que tocava um pouco baixo pelo ipod; Wonderwall, do Oasis. Era minha música favorita, e creio que Caíque sabia disso, pois hoje, só ouvimos músicas de bandas e cantores que eu idolatrava. O fato, é que eu não conseguia ouvir essa música sem cantar e dançar loucamente. Levantei de seu peito e comecei a cantar fazendo mímicas.
Ele me olhava incrédulo, se divertindo com a situação, até que o refrão chegou, e ele se juntou a mim e ao meu show.
- ‘Cause maybe, you’re gonna be the one that saves me. And after all, you’re my wonderwall.
Na verdade, aquela música não tinha um motivo aparente para ser a minha favorita, até aquele momento. Descrevia tudo pelo o quê nós dois passamos até agora. Nós dois salvamos um ao outro, e nos tornamos nossos próprios refúgios.
Deixamos a música no modo repetição, e agora em pé, nós dois pulávamos e dançávamos livremente, como se não existisse mais ninguém no mundo, exceto por nós dois.
A porta que conectava o jardim à cozinha estava aberta, e levava nosso barulho para dentro da casa. Caíque não havia me dito nada, então achei que estávamos sozinhos, mas tomei consciência de que não, pois me deparei com a figura de uma criança de não que mais que três anos parada na porta, nos encarando, prestes a chorar. Envolto em seus braços pude notar um coelho de pelúcia cor de creme com as orelhas roxas, idêntico a um que tive em minha infância. Óbvio que era Manoela, a irmã mais nova de que Caíque tanto falava. Tinha cabelos loiros cacheados na altura do pescoço, e olhos angelicais. Era linda, assim como o irmão. Ele logo percebeu que eu parara de dançar, e se virou para encarar o que quer que seja que eu olhava. Quando se deparou com sua irmãzinha, ele logo correu até ela, e a pegou em seu colo. Desliguei a música, pois tinha quase certeza de que a acordamos.
- Hey minha pequena, você acordou? – Caíque dizia quase que em um sussurro, enquanto eu me aproximava deles.
-Cá, eu tive um pesadelo, e não consigo mais dormir – ela respondeu ao irmão choramingando.
- Amor, me desculpa de verdade! – ele se desculpou agora se dirigindo a mim – Meus pais me deixaram tomando conta dela enquanto viajam, e eu achei que ela fosse dormir a noite inteira.
- Não esquenta. Eu já fui babá, e adoro crianças. – disse – Eu te ajudo a cuidar dela!
Eu realmente não me importava, pois cuidava dos meus primos sempre quando era menor, e até hoje cuido de algumas crianças da vizinhança.
- Hey, meu amor! – eu disse enquanto acariciava seus cabelos – Que tal se a gente assistisse um filme lá na sala? Eu posso te contar um segredo que meu pai me ensinou pra não ter pesadelo nunca mais! – pisquei pra ela.
O que eu mais gostava das crianças, é que elas eram mais sociáveis do que qualquer pessoa de 17 anos. A prova disso, é que após alguns minutos, Manoela já estava em meu colo, contando tudo sobre seu coelhinho de pelúcia, o Sr. Hutts.
Nós três nos deitamos na sala – Caíque apoiado no sofá, eu em seu peito, e Manu em meu colo – cobertos por algumas várias cobertas, assistindo ao último filme sobre vegetais piratas. Aparentemente, “nossa” pequena havia apagado.
- Soph, eu preciso te contar uma coisa... – Caíque disse após minutos de silêncio, em meu ouvido. – Olha.... a mensagem, você estar aqui hoje, o jantar, bom... Tudo isso foi pra te dizer uma coisa; eu te amo como nunca amei ninguém antes, e eu sei que mesmo nós dois sendo jovens demais pra pensar em futuro, eu tenho a certeza de que eu quero passar o meu ao seu lado. Ver você brincando com a Manu hoje, foi a prova de que você é a mulher certa pra mim. – eu podia sentir lágrimas de felicidade brotando dos meus olhos, quando ele fez um pequeno esforço para pegar algo em seu bolso. Era uma caixinha de veludo, e eu sabia que ela continha uma aliança. Neste momento, um sorriso do tamanho do mundo brotou em meu rosto. Quando ele abriu a caixa, pude notar que a aliança na verdade, tinha o contorno do símbolo do infinito.
 – Quer namorar comigo?
Eu estava sem reação, mas sabia que tudo aquilo que ele havia dito, também era o quê eu sentia.
Sem palavras, apenas balancei a minha cabeça, e me virei cuidadosamente para beijar seus doces lábios. Mais uma vez, foi um beijo demorado, como nós dois gostávamos.
- Ecaaa!! – a voz sonolenta de Manoela ecoou pela sala. Interrompemos nosso beijo com uma risada.
- Acho que agora tá na hora de dormir de verdade, né, meu amor?! – Caíque disse enquanto nós três nos levantávamos. Ele a pegou no colo. – Vem, vamos pra cama.
- Ah... Amor, eu vou indo pra casa então, tá?!Eu te ligo quando chegar.
Ele me olhou surpreso.
- Tá louca? Você acha que eu vou deixar a minha namorada sair sozinha e indefesa a essa hora da madrugada?! Não mesmo, vai dormir aqui comigo!
Madrugada?! Olhei para meu relógio e vi que era verdade. Eram quase quatro horas da manhã. Acabei concordando com ele, pois não tinha a mínima vontade de dirigir até minha casa.
Após finalmente conseguirmos fazer Manu dormir, nos dirigimos ao quarto de Caíque, no final do corredor. Algumas roupas estavam jogadas pelo chão, seu  violão estava encostado ao lado da escrivaninha onde ficava o computador, e acima da sua cama de casal – que ficava no meio do quarto – pude notar algumas fotos. Em algumas pude notar sua família, seus pais, Manu, e alguns dos melhores amigos de Caíque, que reconhecia da escola. O que mais me surpreendeu, foram as fotos de nós dois juntos. Eram poucas, mas tinha a certeza de que lotaríamos a parede em pouco tempo.
Estava morrendo de sono, e esperava por Caíque deitada em sua cama, enquanto ele tomava banho no banheiro da suíte. Prendi meu cabelo em um coque no alto da cabeça, e tirei minha calça, pois já estava começando a ficar desconfortável. Eu ficaria apenas com meu lingerie, mas estava muito frio pra isso. Acabei pegando uma camiseta de Caíque, que cabia quase como um vestido em mim. Ele abriu a porta do banheiro, e o vapor de dentro adentrou o quarto. Estava usando uma samba canção, e estava mais sexy do que nunca. Ficaria excitada, se não estivesse tão cansada. Ele me olhou divertido, e disse:
- Minha camiseta favorita. Mas confesso, fica melhor em você. – Era uma camiseta de zombies junto com a frase “A zombie ate my brain, but i’m still smarter than you”. Ele pulou na cama, e me aninhou em seus braços, beijando meu pescoço.
- Amor, você pode ligar o aquecedor? Eu sou muito friorenta, sabe?! – disse, fazendo manha.
- Eu ligo, mas pode ter certeza de que eu sou muito mais quente que ele. – nós rimos.
Nos acomodamos na cama, e após carícias, estávamos prontos para dormir. Me virei pra lhe desejar “boa noite”.
- Obrigada por ser a melhor coisa que já aconteceu na minha vida, Cá. Eu te amo, demais, tchuco. – o chamei pelo apelido carinhoso e ele riu.
- Eu também te amo demais, minha pequena, pra sempre. Agora vai dormir, porque eu tô com sono! – ele disse brincando – Boa noite, namorada.
Como era bom ouvir aquilo saindo da boca dele. O efeito era muito melhor do que quando saiu da boca de muitos outros, inclusive de Lucas.
- Boa noite, namorado. – disse, beijando sua boca.
Acabei adormecendo, e naquela noite, tive o sonho mais lindo, real da minha vida.

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