Eu estava dirigindo feito uma louca pela cidade, em direção
à casa de Caíque. Meus pensamentos estavam a mil, e eu só era capaz de pensar
no pior, que Lucas tivesse feito alguma coisa com ele, o tivesse machucado. Se
alguma coisa acontecesse com o meu Caíque,
eu jamais desculparia Lucas, e nem a mim mesma.
Após alguns minutos – menos do que o normal graças à minha
velocidade – cheguei à casa de Caíque. Era uma casa muito bonita, com janelas
grandes e amplas, fachada de tijolos brancos, e no canto da propriedade uma
porta que dava para o jardim, o lugar onde ele passava a maior parte do tempo,
brincando com sua irmãzinha.
Toquei a campainha e esperei até que alguém abrisse a porta.
Lá estava ele. Excepcionalmente lindo. Seus cabelos castanhos bagunçados agora
pingavam, indicando que ele havia acabado de tomar banho. Seus olhos verdes
brilhavam, e como sempre eu me senti hipnotizada por eles. Me joguei em seus
braços, e lhe dei um beijo demorado, como se fosse o último. Após alguns longos
minutos, nos soltamos, mas continuamos fitando um ao outro deslumbrados.
- Caíque, pelo amor de Deus! Você tá bem?! Ai meu Deus
aquela mensagem me deixou apavorada, você ta bem de verdade, meu amor? –
finalmente eu quebrei o silêncio, despejando todas as palavras, em quanto tocava
sua face à procura de algum sinal de violência.
- Sabia que você fica
linda preocupada? – ele disse, logo após beijando minha testa. – Eu estou bem
pequena, de verdade. Nenhum arranhão. Aquele Lucas não é nada perto de mim! –
ele riu mostrando seus músculos não muito definidos.
- Ah, assim eu fico muito mais aliviada – disse caçoando
dele. – Mas... Amor, você vai me deixar aqui fora? Está frio, sabia?
- Ai pequena, me desculpa, entra, entra! – ele disse
enquanto me puxava pra dentro de sua casa.
Não tive muito tempo para reparar no ambiente, pois logo que
entrei, Caíque havia colocado suas mãos sobre meus olhos, fazendo com que eu
não enxergasse nada.
- Eu tenho uma surpresa pra você. – sussurrou em meus
ouvidos.
Ele me guiava pela cintura, o que tornava nossa caminhada um
pouco complicada, mas muito agradável. Podia sentir quando esbarrávamos em
alguns móveis, ou até quando algum objeto caía de sua superfície. Ouço quando
ele abre a porta de vidro que sei que está à minha frente. Ele tira minhas vendas,
e beija minha bochecha.
Estávamos em seu jardim, mas hoje ele com certeza estava
especial. Caíque havia preparado um piquenique sob as estrelas para nós dois.
Uma toalha vermelha estava por cima da grama, juntamente com nossos pratos,
talheres e taças. Uma garrafa de vinho e duas caixas de pizza faziam parte do
nosso cardápio.
- Surpresa! – ele disse, percebendo minha emoção. Ninguém
jamais havia feito algo como aquilo pra mim.
- Você é perfeito, sabia?! – disse enquanto o abraçava.
Nos sentamos em cima da toalha e começamos a comer.
Conversávamos sobre assuntos aleatórios enquanto bebericávamos ao vinho. Caíque
havia ligado seu ipod, assim tínhamos música ambiente, embora nossas risadas se
sobressaíssem.
Terminamos nossa refeição, mas continuamos no jardim.
Estávamos em silêncio, eu deitada sobre seu peito, olhando as estrelas que hoje
pareciam querer tornar a nossa noite ainda mais especial, pois brilhava como
nunca, diante de nossos olhos. Estava a ponto de adormecer com as carícias de
Caíque em meu cabelo, mas pude reconhecer a música que tocava um pouco baixo
pelo ipod; Wonderwall, do Oasis. Era minha música favorita, e creio que Caíque
sabia disso, pois hoje, só ouvimos músicas de bandas e cantores que eu
idolatrava. O fato, é que eu não conseguia ouvir essa música sem cantar e
dançar loucamente. Levantei de seu peito e comecei a cantar fazendo mímicas.
Ele me olhava incrédulo, se divertindo com a situação, até
que o refrão chegou, e ele se juntou a mim e ao meu show.
- ‘Cause maybe, you’re gonna be the one that
saves me. And after all, you’re my wonderwall.
Na verdade, aquela música não tinha um motivo aparente para
ser a minha favorita, até aquele momento. Descrevia tudo pelo o quê nós dois
passamos até agora. Nós dois salvamos um ao outro, e nos tornamos nossos
próprios refúgios.
Deixamos a música no modo repetição, e agora em pé, nós dois
pulávamos e dançávamos livremente, como se não existisse mais ninguém no mundo,
exceto por nós dois.
A porta que conectava o jardim à cozinha estava aberta, e
levava nosso barulho para dentro da casa. Caíque não havia me dito nada, então
achei que estávamos sozinhos, mas tomei consciência de que não, pois me deparei
com a figura de uma criança de não que mais que três anos parada na porta, nos
encarando, prestes a chorar. Envolto em seus braços pude notar um coelho de
pelúcia cor de creme com as orelhas roxas, idêntico a um que tive em minha
infância. Óbvio que era Manoela, a irmã mais nova de que Caíque tanto falava.
Tinha cabelos loiros cacheados na altura do pescoço, e olhos angelicais. Era
linda, assim como o irmão. Ele logo percebeu que eu parara de dançar, e se
virou para encarar o que quer que seja que eu olhava. Quando se deparou com sua
irmãzinha, ele logo correu até ela, e a pegou em seu colo. Desliguei a música,
pois tinha quase certeza de que a acordamos.
- Hey minha pequena, você acordou? – Caíque dizia quase que
em um sussurro, enquanto eu me aproximava deles.
-Cá, eu tive um pesadelo, e não consigo mais dormir – ela
respondeu ao irmão choramingando.
- Amor, me desculpa de verdade! – ele se desculpou agora se
dirigindo a mim – Meus pais me deixaram tomando conta dela enquanto viajam, e
eu achei que ela fosse dormir a noite inteira.
- Não esquenta. Eu já fui babá, e adoro crianças. – disse –
Eu te ajudo a cuidar dela!
Eu realmente não me importava, pois cuidava dos meus primos
sempre quando era menor, e até hoje cuido de algumas crianças da vizinhança.
- Hey, meu amor! – eu disse enquanto acariciava seus cabelos
– Que tal se a gente assistisse um filme lá na sala? Eu posso te contar um
segredo que meu pai me ensinou pra não ter pesadelo nunca mais! – pisquei pra
ela.
O que eu mais gostava das crianças, é que elas eram mais
sociáveis do que qualquer pessoa de 17 anos. A prova disso, é que após alguns
minutos, Manoela já estava em meu colo, contando tudo sobre seu coelhinho de
pelúcia, o Sr. Hutts.
Nós três nos deitamos na sala – Caíque apoiado no sofá, eu
em seu peito, e Manu em meu colo – cobertos por algumas várias cobertas,
assistindo ao último filme sobre vegetais piratas. Aparentemente, “nossa”
pequena havia apagado.
- Soph, eu preciso te contar uma coisa... – Caíque disse
após minutos de silêncio, em meu ouvido. – Olha.... a mensagem, você estar aqui
hoje, o jantar, bom... Tudo isso foi pra te dizer uma coisa; eu te amo como
nunca amei ninguém antes, e eu sei que mesmo nós dois sendo jovens demais pra
pensar em futuro, eu tenho a certeza de que eu quero passar o meu ao seu lado.
Ver você brincando com a Manu hoje, foi a prova de que você é a mulher certa pra
mim. – eu podia sentir lágrimas de felicidade brotando dos meus olhos, quando ele
fez um pequeno esforço para pegar algo em seu bolso. Era uma caixinha de veludo,
e eu sabia que ela continha uma aliança. Neste momento, um sorriso do tamanho
do mundo brotou em meu rosto. Quando ele abriu a caixa, pude notar que a
aliança na verdade, tinha o contorno do símbolo do infinito.
– Quer namorar comigo?
Eu estava sem reação, mas sabia que tudo aquilo que ele
havia dito, também era o quê eu sentia.
Sem palavras, apenas balancei a minha cabeça, e me virei
cuidadosamente para beijar seus doces lábios. Mais uma vez, foi um beijo
demorado, como nós dois gostávamos.
- Ecaaa!! – a voz sonolenta de Manoela ecoou pela sala.
Interrompemos nosso beijo com uma risada.
- Acho que agora tá na hora de dormir de verdade, né, meu
amor?! – Caíque disse enquanto nós três nos levantávamos. Ele a pegou no colo.
– Vem, vamos pra cama.
- Ah... Amor, eu vou indo pra casa então, tá?!Eu te ligo
quando chegar.
Ele me olhou surpreso.
- Tá louca? Você acha que eu vou deixar a minha namorada
sair sozinha e indefesa a essa hora da madrugada?! Não mesmo, vai dormir aqui
comigo!
Madrugada?! Olhei para meu relógio e vi que era verdade.
Eram quase quatro horas da manhã. Acabei concordando com ele, pois não tinha a
mínima vontade de dirigir até minha casa.
Após finalmente conseguirmos fazer Manu dormir, nos
dirigimos ao quarto de Caíque, no final do corredor. Algumas roupas estavam
jogadas pelo chão, seu violão estava encostado ao lado da escrivaninha onde ficava o
computador, e acima da sua cama de casal – que ficava no meio do quarto – pude
notar algumas fotos. Em algumas pude notar sua família, seus pais, Manu, e
alguns dos melhores amigos de Caíque, que reconhecia da escola. O que mais me
surpreendeu, foram as fotos de nós dois juntos. Eram poucas, mas tinha a
certeza de que lotaríamos a parede em pouco tempo.
Estava morrendo de sono, e esperava por Caíque deitada em
sua cama, enquanto ele tomava banho no banheiro da suíte. Prendi meu cabelo em
um coque no alto da cabeça, e tirei minha calça, pois já estava começando a
ficar desconfortável. Eu ficaria apenas com meu lingerie, mas estava muito frio
pra isso. Acabei pegando uma camiseta de Caíque, que cabia quase como um
vestido em mim. Ele abriu a porta do banheiro, e o vapor de dentro adentrou o
quarto. Estava usando uma samba canção, e estava mais sexy do que nunca.
Ficaria excitada, se não estivesse tão cansada. Ele me olhou divertido, e
disse:
- Minha camiseta favorita. Mas confesso, fica melhor em
você. – Era uma camiseta de zombies
junto com a frase “A zombie ate my brain, but i’m still smarter than you”. Ele pulou na cama, e me
aninhou em seus braços, beijando meu pescoço.
- Amor, você pode ligar o aquecedor? Eu sou muito friorenta,
sabe?! – disse, fazendo manha.
- Eu ligo, mas pode ter certeza de que eu sou muito mais
quente que ele. – nós rimos.
Nos acomodamos na cama, e após carícias, estávamos prontos
para dormir. Me virei pra lhe desejar “boa noite”.
- Obrigada por ser a melhor coisa que já aconteceu na minha
vida, Cá. Eu te amo, demais, tchuco. – o chamei pelo apelido carinhoso e ele
riu.
- Eu também te amo demais, minha pequena, pra sempre. Agora
vai dormir, porque eu tô com sono! – ele disse brincando – Boa noite, namorada.
Como era bom ouvir aquilo saindo da boca dele. O efeito era
muito melhor do que quando saiu da boca de muitos outros, inclusive de Lucas.
- Boa noite, namorado. – disse, beijando sua boca.
Acabei adormecendo, e naquela noite, tive o sonho mais
lindo, real da minha vida.