quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Capítulo 4


Sophia ainda não conseguia acreditar em tudo o quê havia acontecido naquele dia. Parece que um amor se foi, mas logo Deus trouxe outro para ela... não conseguia tirar da cabeça que ficar com Caíque ainda era errado, mas não podia negar que gostou, e que ficou um gostinho de quero mais. Estava revivendo todos os momentos  que passara junto Caíque nas fotos. Não havia sequer reparado em quão bonito ele era. Alto, com os cabelos castanhos bagunçados, e seu olhos ora verde, ora castanhos tão penetrantes, capazes de te deixar sem ar. Sua face carregava um ar despreocupado. Era perfeito, mas de certa forma, inatingível.
Sophia era um pouco insegura de si mesma. Mas era bonita. Demais. Era alta, cabelos loiros ondulados caindo nos ombros, olhos castanhos bem escuros... ela e Caíque realmente formavam um belo casal.
Estava quase dormindo depois de tanto passar as imagens das boas lembranças daquela tarde -  que doíam mais das que envolviam Lucas - quando seu celular toca. Ela preferiu ignorar, até que viu que o nome de Caíque aparecia no identificador de chamadas. Ela atendeu, mas esperou que ele começasse a falar:
- Sophia, eu te acordei?
- Não... na verdade eu estava acordada, pensando na vida. - respondeu.
- Huumm... - ele pareceu pensar um pouco antes de falar o que realmente queria - Olha, eu só queria pedir desculpa por aquilo que eu fiz! Eu não tinha o direito, ainda mais fragilizada como você estava.
Fragilizada. Aquela palavra pesou aos ouvidos de Sophia.
- Então é isso? - ela perguntou com certa raiva - Você só me beijou porque sentiu dó?
- Sophia, não é isso, eu queria, de verdade! Eu ainda quero, mas nós dois sabemos que não podemos.
A raiva de Sophia aumentava ainda mais. Quer dizer, eles podiam sim. Depois de tanto pensar naquela noite, havia chegado à conclusão de que também tinha o direito de ser feliz, como todos à sua volta.
- Sabe Caíque, eu achava que você era diferente. - ela dizia em meio à lágrimas incontroláveis - O Lucas conseguiu magoar uma menina, mas você sabe que está fazendo muito pior, iludindo duas. Nós dois sabemos que você não ama mais a Luísa, e é inevitável o fato de que nós dois pertencemos um ao outro. 
Agora quem chorava era Caíque. Ela não tinha intenção de fazer isso, e nem imaginava que ele sentisse algo tão forte.
- Sophia... eu sinto muito, de verdade. O quê eu sinto por você é muito forte, de verdade. Eu amo você Soph, de verdade, mas eu não posso fazer isso com a Luísa.
- Caíque, eu cansei de ser feita de boba. Eu também sinto algo muito forte por você, mas eu só posso descobrir se é amor, se você realmente puder pertencer à mim. Desculpa, mas tem que ser assim. - com isso, Sophia desligou o telefone, e mergulhou em seu travesseiro, esperando que morresse afogada. Apenas adormeceu.
******
- Sophia! Acorda, porra! A gente vai perder o horário, e eu não quero chegar atrasado de novo. 
Sophia acordou com os gritos de seu irmão mais novo, Rodrigo. Era apenas um ano de diferença, então estudavam na mesma escola.
- Rodrigo, meia hora e eu tô aí em baixo, juro! - Sophia respondeu tão sonolenta, que era capaz que seu irmão nem a tivesse ouvido.
Mais uma vez, reunindo todas as suas forças como acontecia todas as manhãs, Sophia levantou de sua cama, tomou um banho super rápido no banheiro de seu quarto - o suficiente para que despertasse - e vestiu a primeira roupa que viu na sua frente: uma calça jeans clara, tênis vans e uma camiseta com a estampa de uma coruja - seu animal favorito. Arrumou seu cabelo em um coque no alto da cabeça, e colocou seus óculos de armação quadrada, que escondiam sua verdadeira beleza.
Desceu correndo as escadas, e nem parou pra tomar café. Deu um beijo em sua mãe, e outro em seu pai, e foi com seu irmão para a garagem, pois iriam com o carro dela para a escola, um Mercedes.
O caminho de sua casa até St. Judes era curto, apenas quinze minutos. Após estacionar o carro no estacionamento da escola, ela e seu irmão se separaram, pois o segundo e o terceiro ano estudavam em prédios diferentes.
- Bom aula, Digo - Sophia disse para seu irmão.
- Bom aula, Soph, amo você.
- Também te amo, caçula. 
Os dois irmãos eram muito amigos, pois a diferença de idade era bem pequena. Quando qualquer um dos dois precisava de conselhos amorosos, sabiam a quem pedir.
Sophia sabia que o dia de hoje seria estranho, só não sabia o quê esperar. Nem em seus piores pesadelos, a atual realidade seria tão nefasta.
Ao caminhar em direção ao seu armário, podia sentir o olhar de todos em sua direção. Alguns sussurros eram perceptíveis; "Nossa, como ela pôde fazer aquilo?!" "Você já tinha reparado nela? Tem cara de santinha, mas a gostosa é safada" "Se fosse comigo, eu não deixava barato". 
A vontade de chorar a dominava, pois as pessoas conseguiam ser realmente cruéis quando queriam. Saiu correndo pelo corredor, para chegar mais depressa ao seu armário, achando que estaria livre da multidão. Mas algo pior a esperava.
- Já te disseram que você é uma verdadeira puta?! - era Luísa que disse em tom de deboche para Sophia.
Ela já não conseguia ouvir mais nada, e a única coisa que queria era sair daquele lugar. Não conseguia, pois sua pernas estavam pesadas, e o mundo ao seu redor girava. Precisava de forças para ficar em pé, e não desmaiar, como sabia que aconteceria. De repente, alguém a puxou pela cintura, e a conduziu para longe dali. Ela só não sabia quem era, e para onde estava indo.

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